* Wilson Bastos

Hoje acordei e pus-me em pé muito cedo, até o sol surpreendeu-se, pois ainda estava despedindo-se de sua companheira lua, ainda desnuda, para apresentar-se em seu proscênio tropical. Preparei meu café e dirigi-me ao andar superior, local esse que tem uma visão ostentativa, podendo-se comtemplar boa parte da cidade e sua praia. E deparei-me com uma urbanização desguarnecida, que não conhecia.

No dissemelhante momento um emaranhado de conflitos, sentimentos diversos e pensamentos desfilavam em minha mente. E como que alertado deparei-me a contemplar uma cena quase que delineada. Um ser a dormitar na areia da praia, junto a uma preguiçosa chama, que como uma bailarina provocava e lançava-se freneticamente, como que fosse desvencilhar-se daquela brisa que sutilmente a manipulava mantendo-a ardente.

Ao expectar, veio-me então uma dúvida! Será que a percepção da solidão depende do status de ter alguém? Estar com alguém seria sinônimo de companhia? E logo como que celeremente como respostas veio a minha mente personagens que sempre tive como verdadeiras companhias.

E lembrei que Nietzche tinha a solidão como fiel companheira. Sartre dizia que quem não se sente bem só, é porque está em má companhia. Rainer Rilke falava que a vida e a arte eram de uma solidão infinita. E Vinicuis? Em sua poesia O operário em construção! Sem mencionar certas pessoas que fazem de minha solidão um ato de felicidade! Oras!  Solidão não e sinônimo de enfermidade. É apenas uma circunstância.

Só precisa de um sentido! Na essência, todos somos de alguma forma abraçados pelos tentáculos da solidão! Mais tranquilo continuo minha jornada diária, sem medo do fantasma que se refugiou naquela solidão de uma natureza morta. Meu medo nunca foi viver sozinho. Não ser contemplado com uma fé inabalável para conseguir uma graça divina qualquer. Pois para mim ausência de companhia nunca foi falta.

Ah! Como dizia o genial bigodudo. “Não me roube a solidão antes de oferecer-me a verdadeira companhia.” Medo da solidão, nunca tive! Medo tenho de ter que desperdiçar o espaço de uma cama de casal com um lençol de solteiro. Pensar e não poder expor. Ou expor sem poder pensar! Ou perambular pelas ruas com medo de pessoas que até possam ter medo de mim! Percebo agora que o sol está finalmente desperto tocando minha face, então sento-me com meu fiel companheiro, meu violão! E numa intrínseca melodia brindamos nossa eterna e verdadeira companhia. E ficamos quase em paz!

Wilson Bastos é Músico, Radialista e Professor
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