Pesquisa do Trata Brasil aponta SC como um dos estados mais vulneráveis a ter impactos no saneamento básico devido a tempestades e alagamentos
Santa Catarina é um dos estados com maior risco de impacto no saneamento básico em casos de tempestades e alagamentos.
Segundo o Instituto Trata Brasil (ITB), 98% dos municípios catarinenses têm risco muito alto de sofrer impacto no sistema de abastecimento de água em caso de chuvas fortes.
Os dados fazem parte do estudo “As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento: como secas, tempestades e ondas de calor impactam no consumo de água?”, divulgado pela entidade na última semana.
Ainda de acordo com a pesquisa, o Estado também tem um dos maiores riscos de contaminação de rios, lagoas, córregos e outras águas superficiais, já que menos de um terço da população tem acesso a coleta e tratamento de esgoto.
Água imprópria deixou adolescentes doentes
Em Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis, alguns relatos se tornaram recentes durante o mês de outubro.
A cozinheira Alejandra Macabi acompanhou de perto a piora na saúde do irmão mais novo durante as últimas semanas, que apresentou vômito e febre.
Os médicos diagnosticaram a criança com virose por causa da água, que estava amarelada.
O bairro de Palmas, onde as queixas se concentram, conta com uma estação de tratamento própria que apresentou problemas no fim do mês.
Ao menos 90 hóspedes de um hotel ficaram doentes, a maioria deles adolescentes em viagem de formatura.
A vigilância sanitária do município afirmou que a água da rede de abastecimento estava imprópria para consumo durante o período, após fazer testes no hotel onde os adolescentes estavam hospedados.
O órgão auxiliou o local nas medidas complementares.
O diretor da Secretaria Executiva de Saneamento (Samae) de Governador Celso Ramos, Alcides Pereira, diz que o cloro “acusou” um pouco mais baixo que o permitido. De acordo com o diretor , “o cloro tem que estar de 0,2 a 2 e foram encontrados 0,15”.
— Isso se justifica por causa do grande período de seca, durante os meses de agosto e setembro. Então, entre os dias 10 e 15 de novembro tivemos muita chuva. Devido a questão do aumento dos microrganismos, que desce junto a chuva, a dosagem de cloro que é feita normalmente precisa ser aumentada, mas isso não foi feito porque o operador não estava ciente que deveria aumentar — diz.
A presidente do Instituto Trata Brasil (ITB), Luana Pretto, explica que quando há muitos dias de chuvas intensas a qualidade manancial ou ainda do rio, onde é feita a captação da água, dificulta o processo de tratamento, tornando mais ineficiente.
Isso faz com que a água distribuída para a população em alguns momentos possa não atingir todos os parâmetros de potabilidade.
— Na região sul nós temos uma projeção de mais intensidade das tempestades, ou seja, a gente já está vivendo um período crítico hoje com tempestades máximas de um dia sendo algo bastante recorrente, e a tendência com o aumento da temperatura do planeta é que essas tempestades se intensifiquem — pontua.
A Casan, empresa que atende 65% dos municípios catarinenses, diz que em lugares onde não há rede coletora de esgoto é previsto um sistema individual formado por tanque séptico, fossa ou sumidouro, que faz a filtração do efluente tratado no solo. Em eventos de chuva persistentes, o solo acaba saturando.
Luana Pretto explica que, quando essas chuvas intensas acontecem, o esgoto bruto acaba se infiltrando no solo e indo parar nos rios e mares, fazendo a população ter contato com patógenos (organismos que podem causar doenças em um hospedeiro) e, consequentemente, a população pode apresentar vários episódios de diarreia, dengue, leptospirose e outros.
A principal recomendação do instituto para municípios e estados é a adoção de novas tecnologias, como sensores e vazores, para automatizar as ações.
Outro ponto é adaptar a infraestrutura para eventos climáticos extremos, como o fortalecimento das estruturas existentes e a construção de outras mais robustas.
De acordo com informações da Casan, a empresa planeja a expansão das estruturas de saneamento, considerando os efeitos das mudanças climáticas.
Além disso, a meta é atingir 50% de cobertura de esgoto tratado em Santa Catarina até 2026 e aumentar para 90% até 2033.
A Casan afirmou que executa programas como Trato pelo Saneamento, contra ligações irregulares, e o Esgotamento Sobre Rodas, para chegar a municípios que ainda não fazem parte da rede coletora.