Marido busca apoio para cuidar da esposa diagnosticada com Alzheimer

Foto: Ilustrativa

Casal de Balneário Piçarras teve a rotina de vida profundamente alterada com a progressão da doença

Marcos de Oliveira
Da redação

Há 11 anos, a vida do advogado Carlos Alberto Dezidério, 62 anos, mudou desde que a esposa foi diagnosticada com Alzheimer. A realidade dele se junta a de milhões de pessoas no mundo inteiro que convivem com a doença na família.

Pesquisas de universidades brasileiras apontam que o cuidador ou parente mais próximo do paciente, com o passar dos anos, precisa de acompanhamento psicológico para enfrentar uma experiência tão traumática. Não só o paciente é afetado, mas todos que convivem com ele.

Carlos Alberto é advogado e mudou sua rotina para dedicar grande parte do seu tempo a cuidar da esposa *H. F., 64 anos. Os dois estão casados há 38 anos e nunca tiveram filhos. No apartamento onde moram, no Bairro Itacolomi, em Balneário Piçarras, uma profissional é contratada para passar 12 horas semanais na companhia da paciente. O preço pago pelo serviço é de R$ 70 a hora.

Em vídeos que a reportagem do Oiscnotícias teve acesso, H.F. apresenta um comportamento de irritabilidade e agressividade. Ela se nega a tomar banho e insiste que quer a cuidadora fora da casa. “O estado de saúde dela tem piorado nos últimos quatro anos”, lamenta o marido.

“Os profissionais do sistema de saúde de Balneário Piçarras demonstram desconhecimento e despreparo para atender pacientes com a doença de Alzheimer”
Carlos Alberto Dezidério, marido

Diante do agravamento da situação da esposa, Carlos resolveu buscar apoio na prefeitura do município e também na Justiça. “Os profissionais do sistema de saúde de Balneário Piçarras demonstram desconhecimento e despreparo para atender pacientes com a doença de Alzheimer”, apontou.

Em agosto, um laudo psiquiátrico assinado pelo médico do Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS), André Ronchetti, sugeriu a internação de H.F. em uma Instituição de Longa Permanência (ILP) para receber cuidados de uma equipe multidisciplinar. O pedido de encaminhamento nunca foi cumprido pela prefeitura.

A enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde, Carla Rudolff, explica que o município não dispõe de ILP´s para pacientes diagnosticados com Alzheimer e a internação compulsória deve ser determinada pelo Ministério Público (MP), a partir de um estudo social junto à família.

“A doença que estamos tratando é neurodegenerativa. Não se trata de doença mental ou de dependência química. Não compete ao CAPS providenciar ou determinar a necessidade de internação. Cabe ao município acompanhar a paciente H.F. no tratamento e fornecimento de remédios do SUS”, esclareceu.

Carlos resolveu procurar o MP em Balneário Piçarras na tentativa de conseguir a internação para a esposa. “Se Alzheimer não é doença mental, não sei o que é. Quem sabe seja doença renal. O segundo aspecto é que município dispõe e tem vaga para dependente químico. A partir do momento que a Secretaria de Saúde admite isso é o fim…Fui na Secretaria de Assistência Social e me ofereceram uma cesta básica como solução”, ironizou.

A doença

A doença de Alzheimer é uma condição neurológica que aparece na meia idade e progride lentamente, caracterizada pela perda progressiva da memória. Geralmente, o paciente começa a esquecer pequenos detalhes do dia a dia e vai se estendendo retrogradamente. É comum que os pacientes tenham muita lembrança do passado e quase nenhuma do presente.

“Pacientes com Alzheimer não necessitam de internação, salvo com outras condições associadas, geralmente de ordem psiquiátrica”
Fabiano José Alves, médico

A internação

O tratamento do paciente, segundo especialistas, é multidisciplinar: com uso de medicamentos, psicoterapia, terapia ocupacional e fisioterapia. “Pacientes com Alzheimer não necessitam de internação, salvo com outras condições associadas, geralmente de ordem psiquiátrica”, comenta o médico Fabiano Alves.

Fabiano explica ainda que pacientes com Alzheimer por si só não necessitam de internação, salvo com outras condições associadas, geralmente de ordem psiquiátrica. “Outro fator é que é uma doença que acomete, caracteristicamente, os idosos. É comum que esses indivíduos de idade mais avançada também tenham outras morbidades que poderiam levá-los à internação. Mas, puramente, pelo Alzheimer, não se faz internação”, finalizou.

*O nome da paciente foi preservado por questões éticas